Dentre os mais de 53 milhões de brasileiros envolvidos em alguma atividade empreendedora – dado registrado pela Global Entrepreneurship Monitor (GEM) – um grupo seleto que tem adquirido cada vez mais espaço nas salas de coworking e instituições de inovação tecnológica são os cientistas empreendedores.
Dos laboratórios de informática ao universo de startups, esse fenômeno curioso, mas não controverso, tem feito pesquisadores que antes se dedicavam apenas aos estudos científicos enxergarem no seu projeto acadêmico possibilidades de uma verdadeira inovação social.
Se você quer saber mais sobre como isso funciona, preparamos algumas dicas para você ir do paper ao pitch e já começar a empreender por meio de um dos recursos mais valiosos da atualidade: o conhecimento.
Primeiro passo: demanda
Segundo Gustavo Leitão, professor do Instituto Metrópole Digital (IMD/UFRN) que, antes da docência, empreendeu por quase dez anos em uma empresa de Tecnologia da Informação (TI), uma das maiores preocupações dos cientistas que querem empreender deve ser a busca constante por uma demanda social.
“Quando desenvolvemos uma pesquisa com base em uma demanda atual e que realmente existe na sociedade, é muito mais fácil tornar o resultado daquele estudo em um produto para o mercado, pois existe, nesse caso, uma validação”, aponta o docente.
Para alcançar esse ideal, um dos caminhos possíveis é a formalização de parcerias institucionais entre universidade e o setor produtivo. “Quando a academia firma uma parceria de pesquisa com a indústria, as chances de se desenvolver estudos voltados a um problema real são muito mais altas”, defende Gustavo Leitão.
Assim, o próprio fato do cientista possuir um financiador externo já é uma espécie de validação para a pesquisa e a tendência é que mais empresas daquele nicho de mercado estejam interessadas no que está sendo desenvolvido. Isso amplia ainda mais o leque de oportunidades do pesquisador.
Mão na massa
Agora que você já tem uma demanda social, atual e validada com o mercado, chegou o momento de pôr a mão na massa e criar um negócio de verdade. Para isso, é preciso entender que, assim como acontece com as startups, o processo de criação de uma empresa baseada em pesquisa científica não nasce da noite para o dia e é composto por etapas bem definidas.
Segundo Fabrício Pamplona, neurocientista empreendedor, são três os passos essenciais para isso: construção (build), medição (measure) e aprendizado (learn).
Na primeira etapa, o cientista precisa criar uma hipótese, um protótipo, para testar posteriormente. Aqui, é importante fazer todo o setup do seu experimento e, sempre que possível, estabelecer os critérios de falha ou de sucesso.
Isso é primordial para seguir rumo à segunda fase, onde o pesquisador vai a campo e testa efetivamente sua hipótese, com métricas eficientes, reais e tangíveis. Por fim, na última etapa (learn), o cientista reúne todos os aprendizados e decide se vai seguir nesse mesmo caminho ou vai mudar o “prumo” do negócio (procedimento também conhecido como “pivotar”.
Aqui vale ressaltar o que Steve Blank, professor de Standford especializado em empreendedorismo, defende: “não é sobre ter uma ideia original que acontece o sucesso de uma startup. É sobre aprendizado, descoberta e execução”. Tudo a ver com ciência, não é?
Além disso, outras práticas que podem ser muito úteis quando o assunto é empreendedorismo científico são interação com ecossistemas de inovação e empreendedorismo (incubadoras, por exemplo), busca por programas de aceleração, workshops e demais eventos de empreendedorismo e investimento.
Cases inspiradores
Toda essa dinâmica de empreendedorismo científico já acontece na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e cases inspiradores têm surgido justamente em decorrência de experimentos e pesquisas aplicadas na instituição.
Na área de TI, exemplos disso estão na incubadora de empresas do Parque Tecnológico Metrópole Digital, a Inova Metrópole, em cujo catálogo de startups encontram-se a Game Mind e a NUT, ambas nascidas de investigações acadêmicas.
No caso da Game Mind, segundo o professor e CEO da empresa, Charles Madeira, a empresa surgiu a partir das atividades do Laboratório de Jogos Digitais e Tecnologias Imersivas para Educação (Game Lab), do IMD, onde professores e alunos debruçaram-se no desenvolvimento de um jogo virtual do tipo RPG para ensino da matemática, o Pharos.
O resultado foi a criação de uma startup da área de jogos digitais que, em junho do ano passado, foi aprovada em 2º lugar no programa Centelha, da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), da qual recebeu incentivo de R$ 53,3 mil para impulsionamento de seu novo negócio.
Já a NUT é uma startup fruto de um doutorado do professor Itamir Barroca e criou um mecanismo tecnológico para acompanhamento e registro dos sinais vitais de pacientes internados em UTI’s, a Plataforma de Assistência Remota (PAR).
Formalizada em julho de 2019 e validada junto ao hospital da Liga Contra o Câncer, a startup foi aprovada em primeiro lugar no Centelha e no edital de fomento do Banco do Nordeste (BNB).
Mais informações sobre essas e outras startups vinculadas à Inova Metrópole estão disponíveis no site.
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