O que antes era visto como “futurístico”, hoje parece ser mais atual do que nunca. A Inteligência Artificial (IA), que por muito tempo ocupou o imaginário popular por causa de filmes, livros e séries, hoje já é uma realidade cotidiana para muitos de nós, e, consequentemente, para muitos dos nossos negócios.

E com a área da Saúde não é diferente. A cada dia, cresce o número de hospitais e clínicas, bem como de profissionais, que têm utilizado (ou que ao menos buscam conhecer um pouco mais sobre) essa prática, que tem aberto inúmeras possibilidades, tanto para profissionais como para os próprios pacientes.

Mas quem pensa que IA representa apenas uma “boa nova”, se engana. Para o professor da UFRN Marcelo Fernandes, essa tecnologia, a despeito dos resultados positivos que carrega, traz consigo uma responsabilidade intrínseca de adaptação, tão atual e corriqueira que já é considerada “um caminho sem volta”.

A seguir, descubra como a IA tem impactado o mercado de Saúde e como suas funcionalidades têm conduzido empresas do mundo todo a uma nova realidade.

 

O futuro já chegou

Se você ainda não acredita que IA já é uma das tecnologias mais difundidas do mundo, basta abrir o seu celular e ver, no sistema de sugestão automática de texto ou no dispositivo de reconhecimento facial, autênticas inteligências artificiais. E com Saúde não é diferente.

Segundo o professor Fernandes – docente envolvido em diversos projetos científicos que utilizam IA para inovar o atendimento em saúde –, já existem dispositivos inteligentes capazes de, por exemplo, prever a ocorrência de partos prematuros, classificar vírus de vários tipos e até detectar, em tempo real, sinais de sono em motoristas.

“Também já existem máquinas capazes de examinar até câncer de tireoide, com acurácia melhor do que a de especialistas. Ou seja, no futuro, existirão análises fisiológicas feitas em casa e não precisaremos, necessariamente, nos consultar com um clínico geral, por exemplo. Tudo será feito por meio de assistentes eletrônicos”, prevê Fernandes.

 

Novas demandas de emprego

Conforme garante o professor, a IA não vai tirar o emprego de ninguém, mas vai conduzir o mercado de trabalho a uma fase de adaptação.

Na área da Saúde, por exemplo, é recomendável que os profissionais se especializem cada vez mais em seus campos de atuação e tenham conhecimentos, ainda que básicos, em IA se quiserem manter-se ativos no mercado. No entanto, mesmo com essa demanda, a oferta de profissionais que atuam com IA ainda é pouco significativa.

“Existe uma carência gigantesca de pessoas para trabalhar com IA. Talvez agora você não faça ideia disso, nem entenda ainda o quanto vamos precisar desses profissionais nos próximos anos, mas é justamente essa realidade que nos tem feito pensar em ofertar disciplinas de IA nos cursos que não são necessariamente de TI, mas de áreas variadas de conhecimento, como já acontece em universidades como Havard”, aponta Fernandes.

Essa característica multidisciplinar se torna ainda mais importante, segundo o professor, quando consideramos que a maioria das pessoas não vão, necessariamente, trabalhar com a criação de novos algoritmos, mas em sua otimização. Ou seja, o conhecimento técnico e científico especializado – sobre determinada doença, por exemplo, – vai ser um dos principais insumos da IA no futuro.

 

Experiência compartilhada

Além do conhecimento especializado e aprofundado, outro importante diferencial dessa nova prática de Inteligência está nas técnicas de aprendizado de máquina (Machine Learning), que possibilitam um sistema incorporar toda a experiência de um ou de vários profissionais da Saúde.

“Vamos imaginar um dermatologista que está prestes a analisar um sinal de pele. Esse profissional verificará, com base em sua própria experiência, vários aspectos daquele sinal, sob uma certa lógica ‘padrão’ de análise. Mas, além dessa lógica – que já está presente até nos sistemas tecnológicos antigos – existe também a experiência do médico. Hoje, a IA é capaz de incorporar até mesmo essa experiência”, afirma Marcelo Fernandes.

Essa incorporação acontece por meio não apenas de um único especialista, mas de vários. Eis, portanto, o verdadeiro potencial da IA: reter, em uma só máquina, protocolos, conhecimentos e até as experiências de vários profissionais juntos. Assustador, não?

 

Integração é essencial

Para que tudo isso aconteça, segundo o professor Fernandes, “a ideia é integrar tudo”. Assim, em uma única plataforma inteligente voltada à Saúde, deverão estar integrados dados sanitários, clínicos, sociais e genômicos, por exemplo.

No entanto, no Brasil, especialmente na área da Saúde, isso ainda se mostra como um grande desafio, visto que ainda não há integração a contento entre data centers.

“A gente tem analisado, por exemplo, as mutações genômicas do novo vírus SARS-COV-2 associada à questão de imobilidade, mas eu não tenho um nenhum dataset que una todas essas coisas”, comenta o docente.

A saída, portanto, é aguardar as cenas dos próximos capítulos e estar preparado para as mudanças, as quais, segundo Marcelos Fernandes, "são inevitáveis".

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