Para promover reflexões e ações voltadas às pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), o mundo inteiro comemora, no dia 2 de abril, o Dia Mundial da Conscientização do Autismo. No âmbito do Instituto Metrópole Digital (IMD/UFRN), a data também é propícia para celebrar uma das ferramentas que tem sido cada vez mais presentes no tratamento de pessoas com autismo: a tecnologia.
Recurso que, ao longo dos anos, já se tornou indispensável para a promoção de saúde e bem-estar, o conhecimento em Tecnologia da Informação (TI) tem sido o promotor de uma série de ações voltadas para o tratamento de pessoas, sobretudo crianças, diagnosticadas com TEA.
Em Natal, a TI possibilitou, inclusive, o surgimento da WayABA, sistema voltado especificamente para o tratamento clínico de pessoas com autismo. Criado pelo desenvolvedor de sistemas Assis Barbosa, a plataforma visa promover todo o gerenciamento, em tempo real, de sessões terapêuticas com pacientes autistas, diminuindo a necessidade de papel e otimizando tempo de trabalho.
O nome do software é derivado de ABA (Applied Behavior Analysis), ou, em português, Análise do Comportamento Aplicada, processo terapêutico baseado no reforço de comportamentos positivos e funcionais que auxilia a busca da independência do paciente.
Assim, a proposta da WayABA reúne todos os dados relativos a esse tratamento e gera relatórios e gráficos em tempo real para terapeutas e analistas, permitindo, também, a visualização dos resultados pelos familiares dos pacientes. Essa funcionalidade, inclusive, foi bem recebida pela enfermeira Patrícia Karla da Costa, mãe de crianças gêmeas que há três anos fazem terapia ABA.
Segundo Costa, a plataforma ajuda a entender melhor o tratamento e o que está sendo realizado com seus filhos, incluindo os familiares nas intervenções. “Me faz sentir parte da equipe e não apenas uma coadjuvante”, comenta a mãe.
Em todo o mundo, o número de pessoas diagnosticadas com autismo, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), é de 70 milhões. Para a plataforma potiguar, essa realidade contribui para o seu alcance a nível nacional, o que já possibilitou o impacto na vida de mais de 1,2 mil pessoas – dentre analistas, auxiliares terapeutas, crianças e familiares.
Surgimento
O desenvolvedor Assis Barbosa conta que a ideia de criar a WayABA em 2018 surgiu da rotina de intervenções ABA pelas quais passava seu filho, diagnosticado com autismo aos dois anos.
“Quando vi a auxiliar terapeuta realizando os treinos com meu filho, percebi que ela anotava tudo em papel e eram muitas folhas. E só depois cadastrava essas informações manualmente em planilhas. Como sou da área de tecnologia, vi aquilo com uma certa estranheza”, lembra Barbosa.
A partir dessa observação, o desenvolvedor conversou com a psicóloga e analista de comportamento responsável pelo tratamento de seu filho, Adelma Prata, e juntos decidiram criar o sistema WayABA.
“Apresentei a ela a possibilidade da gente desenvolver uma solução digital para resolver esse problema dos papéis, e, além disso, gerar relatórios e estatísticas das intervenções automaticamente. Ela adorou a ideia e foi aí que iniciamos o projeto”, conta o desenvolvedor.
A proposta resultou na criação da startup WayABA, a qual hoje é vinculada à incubadora de empresas Inova Metrópole, sediada no IMD. Atualmente, a empresa atende 50 clientes – dentre clínicas e analistas de comportamento autônomos que aplicam ABA –, oriundos de diferentes regiões do Brasil como São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Santa Catarina, Mato Grosso e Goiás.
Sucesso
Parte do sucesso da plataforma potiguar está relacionada à capacidade da WayABA de gerenciar digitalmente mecanismos como protocolos de avaliação e currículos de atividades terapêuticas, a partir dos quais são exibidos os gráficos que, de forma bem clara, mostram os marcos de desenvolvimento da criança com TEA e as áreas em que ela ainda precisa se desenvolver.
“A grande vantagem é que ao executar esses treinos e ao coletar esses dados, tudo isso já está instantaneamente disponível para o analista de comportamento de forma visual e por meio de análises estatísticas, que auxiliam o processo de intervenção e servem para embasar decisões”, destaca Assis Barbosa.
Para Emília Priscilla Nascimento, psicóloga que atua como analista de comportamento, a adoção do uso da WayABA na clínica em que atua otimizou os seus atendimentos especialmente no aspecto do tempo de trabalho.
“Antes, tudo era no papel e só depois transportávamos as informações para os gráficos, o que gerava atraso na entrega dos resultados”, conta Nascimento.